Trabalho remoto é coisa de vagabundo?
Depois de anos trabalhando de forma remota, eu tenho uma opinião muito clara sobre esse assunto.
👋🏼 Bem vindo a edição de número #55 da Newsletter do Moa.
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O tema "trabalho remoto" virou um assunto polêmico. Tem quem ame, tem quem odeie. Eu trabalho de forma remota há 10 anos. Tenho experiência suficiente para opinar se esse é um bom ou mau modelo de trabalho.
Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu falo qual é a minha opinião em relação ao trabalho remoto e também explico como funciona nosso modo de trabalho aqui no Tintim.
Trabalho remoto raiz
Eu comecei a trabalhar profissionalmente com programação e internet lá em 2010. Nessa época, nem se sonhava com trabalho remoto. Por mais que houvesse algum gestor maluco que bancasse a ideia, não haveria estrutura logística para tal.
Por mais que eu não tenha trabalhado remoto desde o começo da minha carreira, eu comecei a trabalhar de forma remota muito antes desse tema entrar em voga. A minha primeira experiência com o trabalho remoto foi quando eu virei freela, lá em 2014.
Bem… Não era exatamente um trabalho remoto, pois eu não trabalhava diretamente para uma empresa. Como freela, eu fazia trabalhos pontuais para várias empresas. Como esses trabalhos eram pontuais e terceirizáveis, eu tinha pouca interação com o time do cliente. Em vez de trabalho remoto, podemos chamar de "trabalho solo".
Em todo caso, trabalhar sozinho foi muito bom para mim. A maioria das pessoas só tiveram a experiência de trabalhar de forma autônoma lá em 2020, quando houve a pandemia. Até então, o modo de trabalho mais comum era o comando e controle. O chefe manda e você obedece. Eu tive a experiência de ser meu próprio chefe 6 anos antes. Isso me fez desenvolver uma grande habilidade de organização e produtividade.
A minha primeira experiência de trabalho remoto, de fato, aconteceu em 2015. Nessa época, peguei um freela que acabou virando um emprego. Durante a negociação, consegui pleitear um dia por semana de home office. Esse dia era sexta-feira, o pior dia da semana para cruzar a cidade de carro.
Depois, em 2017, aconteceu o mesmo. Em outro freela que se tornou um emprego, eu também negociei um dia de home office por semana. Dessa vez, era quarta-feira, o dia do rodízio do meu carro. O trabalho era numa startup, então, por mais que não houvesse uma cultura de trabalho remoto na empresa, a ideia não era tão distante.
Por conta do meu histórico de experiência com trabalho remoto, eu sempre fui um advogado ferrenho da modalidade. Fazia sentido, afinal, eu era a prova viva de que era possível ser produtivo trabalhando de casa.
Além do mais, eu simplesmente ODIAVA ter que cruzar a cidade todo santo dia. Não fazia nenhum sentido, na minha cabeça, ter que gastar 2h30 da minha vida para ir até um lugar, colocar o fone de ouvido e trabalhar focado. Eu poderia fazer exatamente o mesmo da minha casa. Pegar trânsito e perder tempo para cruzar a cidade duas vezes por dia sempre foi uma tortura psicológica. Quando eu usava o transporte público, chegava a ser uma tortura física.
Lá no finalzinho de 2017, quando eu decidi abrir a Codevance, minha própria fábrica de software, eu tinha uma certeza: todos trabalharíamos de forma remota. Essa decisão teve um grande fundo idealista. Eu realmente acreditava no modelo. Mas, também, tinha um fundo bem prático e conveniente: eu não tinha um puto no bolso para montar um escritório.
Além disso, no começo, eu também não tinha funcionários. Todas as pessoas que trabalhavam para mim eram amigos que estavam fazendo freelas em horários alternativos ao seu trabalho "oficial". Ter começado a Codevance de forma remota foi muito mais uma questão de necessidade do que de escolha.
Anos mais tarde, quando eu e o Renzo transformamos a DevPro em uma empresa, aconteceu a mesma coisa. Não tínhamos funcionário nem dinheiro para ter uma sede. E também não tínhamos a mínima vontade. O Renzo, assim como eu, sempre foi adepto ao remoto. Atualmente, com o Tintim, também estamos 100% remotos.
Apesar dessa vasta experiência, meu fanatismo pelo trabalho remoto já foi bem maior. Conforme fui avançando na jornada como empreendedor, fui encontrando problemas que, antes, como um mero prestador de serviços, não tinha.
Na Codevance, não tive tantos problemas justamente porque o programador já vive mais no ambiente online do que no offline. Ele já está acostumado.
Agora, na DevPro, eu senti algumas dores. Se com programador é fácil, com outras profissões é mais difícil. O crescimento desorganizado acabou trazendo um grande desalinhamento no modo de trabalho e na cultura. Tenho certeza de que esse problema seria infinitamente menor se estivéssemos trabalhando presencialmente.
Eu posso dizer que sou um trabalhador remoto raiz. Meus 10 anos de experiência trabalhando nessa modalidade comprovam isso. E, com toda essa bagagem nas costas, hoje eu consigo entender que o trabalho remoto é simplesmente um meio, e não um fim, a ser atingido.
As bases do trabalho remoto
Já ouvi mais de uma vez os sócios do G4 Educação dizendo que, por lá, eles têm uma cultura de trabalho híbrida: o funcionário trabalha de segunda a sexta no escritório, e sábado e domingo em casa. Obviamente, esse exagero trata-se de uma estratégia de marketing, que tem como objetivo despertar as paixões dos defensores do trabalho remoto (valeria um post somente sobre isso).
Acontece que, como quase tudo na vida, esse assunto não deve ser tratado com a emoção, mas sim com a razão. A minha antiga paixão pelo trabalho remoto era, na verdade, o ódio pelo trânsito e a perda de tempo.
Com a maturidade, eu entendi que o trabalho remoto é apenas um modo de trabalhar. Uma ferramenta. Como toda ferramenta, possui características que podem ser consideradas vantagens ou desvantagens, a depender do contexto.
Segundo o dicionário, trabalho é um conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim. Quando esse conjunto de atividades é exercido por mais de uma pessoa, o trabalho é realizado por meio de colaboração. Também segundo o dicionário, a colaboração é uma parceria, uma união, o ato de produzir ou fazer algo em conjunto.
Trabalhar em conjunto com outras pessoas possui uma vantagem. Quando colaboramos, nos comprometemos com a possibilidade de produzir um resultado maior do que aquele que seria desenvolvido isoladamente.
O pilar que viabiliza um trabalho colaborativo é a comunicação. Para que todos trabalhem rumo a um mesmo fim, é preciso articulação e estratégia. Isso se dá através da comunicação. Só há trabalho bem feito se houver comunicação efetiva.
O ser humano absorve informação de diversas formas. Ouvindo seu interlocutor, ouvindo a conversa alheia, observando os gestos não intencionais do seu interlocutor, interpretando o ambiente a sua volta… Tudo o que passa pela visão, audição, olfato, tato e paladar é informação a ser absorvida e interpretada pelo cérebro.
O mesmo vale para a comunicação. O ser humano se comunica diretamente, indiretamente, verbalmente, fisicamente, através de suas expressões faciais, através de seu tom de voz… São várias as nuances que viabilizam uma comunicação. Às vezes essas nuances são intencionais. Mas, na maioria das vezes, não.
Quando estamos no mesmo ambiente que nossos colegas de trabalho, conseguimos potencializar ao máximo o uso de todos esses recursos. Já quando estamos remotos fica bem mais difícil.
Imagine que o trabalho presencial é como se fosse uma banda larga. Existe espaço e recurso suficiente para que nossa habilidade de comunicar consiga trafegar toneladas de dados. Esse excesso de banda compensa possíveis ineficiências de comunicação.
Já no remoto, a banda é curta. Você perde praticamente toda a sua capacidade de se comunicar de forma indireta e não-intencional. Enquanto presencialmente temos infinitas possibilidades, no remoto só nos resta áudio, vídeo e texto. É preciso extrema eficiência para compensar essa perda de recursos.
Num contexto ideal, a comunicação e, consequentemente, a colaboração, sempre serão mais efetivas no presencial do que no remoto. Isso é uma questão física. Acontece que o contexto nunca é ideal.
Muitas vezes, o contexto nos apresenta uma limitação financeira, que limita o acesso a um espaço físico. Outras vezes, essa limitação pode ser geográfica, que culmina numa escassez de talentos especializados. É aí que precisamos usar nossa habilidade de calcular o custo-benefício.
Quais são as vantagens do trabalho presencial? E as do trabalho remoto? E as desvantagens? Você realmente precisa de todos os recursos de comunicação que o trabalho presencial proporciona? Será que não é possível compensar a falta desses recursos com outras estratégias?
Como funciona o trabalho remoto no Tintim
De acordo com tudo o que escrevi até agora, podemos concluir que, para que o time consiga trabalhar (colaborar) de forma remota, é preciso compensar as ineficiências de comunicação que a ausência física causa. Portanto, a base do trabalho remoto é a comunicação efetiva.
Aqui no Tintim, eu e o time de líderes usamos toda a nossa experiência e habilidade para construir um ambiente que proporcione um modo de comunicação que seja efetivo e garanta que todos trabalhem rumo a um mesmo objetivo. Esses são os pontos mais importantes da nossa estratégia.
Cultura bem definida
Uma cultura definida viabiliza uma boa comunicação. Membros que comunguem dos mesmos valores pensam de forma similar e, com isso, são capazes de se comunicar com mais efetividade.
Os valores do Tintim são claros: lealdade, autonomia, crescimento, ambição, resultado e integridade. Desses, pelo menos três estão diretamente ligados a nossa habilidade de trabalhar remoto.
Para que uma pessoa trabalhe de forma remota, ela precisa ter a capacidade de se auto-gerenciar. Isso é autonomia. Além disso, ela precisa ter em mente que trabalhamos em prol de conquistar um objetivo, isso é resultado. Por fim, precisamos de pessoas íntegras, que honrem seu trabalho e não ajam de má-fé, somente pelo fato de não estarem sendo supervisionadas.
Clareza na direção
Mais importante do que todos trabalharem rumo a um mesmo objetivo é saber para qual objetivo devemos rumar. É preciso que haja um trabalho deliberado em definir qual objetivo queremos alcançar. Além disso, é preciso que esse objetivo seja comunicado da forma mais clara possível.
Aqui no Tintim a gente tem muito claro qual nosso propósito e nossos objetivos de longo, médio e curto prazo. Temos uma meta clara de MRR para este ano, e trabalhamos dia a dia para conquistar essa meta. Além disso, medimos semanalmente como está nosso desempenho em relação à meta. Eu, pessoalmente, envio um vídeo toda segunda-feira, falando sobre nosso desempenho semanal e sobre os avanços rumo a essa meta.
Comunicação assíncrona
Comunicar-se de forma assíncrona é enviar uma mensagem sem esperar uma resposta imediata. Só existe trabalho remoto efetivo com uma alta habilidade de comunicação assíncrona.
Interrupções matam o trabalho criativo e produtivo. Eu, como programador, sei disso como ninguém. É preciso que as pessoas reservem tempo para concentrar-se em completar suas tarefas. Garantir que não haja interrupções externas é garantir que a pessoa consiga usar o máximo de sua capacidade cognitiva em prol do trabalho. Isso se chama Deep work.
Enquanto estou escrevendo este texto, estou com todos os meus aplicativos de mensagem desligados. Ainda assim, meu celular está pipocando de mensagem. Não me importo, pois sei que são mensagens que não preciso responder agora. Se algo for realmente urgente, alguém vai me ligar.
Aqui no Tintim, a gente abusa de ferramentas que viabilizam a comunicação assíncrona. Mas, antes de falar das ferramentas que usamos, é preciso deixar claro uma que a gente abomina: o e-mail. E-mail é um modo arcaico e totalmente ineficiente de comunicação. Ele aprisiona a informação. Enquanto todo o objetivo do trabalho remoto é a inclusão e, consequentemente, a colaboração, o e-mail acaba por excluir as pessoas.
O Loom é uma das melhores ferramentas de colaboração remota. Ao invés de ligar para alguém, ou chamar para uma call, eu simplesmente gravo minha tela e, com isso, chego o mais próximo possível da interação que teria, caso a pessoa estivesse comigo.
O Discord é o nosso principal meio de comunicação rápida. Nada de WhatsApp para comunicação interna. Só usamos em último caso, geralmente para se comunicar com fornecedores externos. Para comunicação não-efêmera, usamos o Click-up. Nele fazemos gestão de projetos, fluxos e tarefas.
Usamos G-suite para gestão de documentos e produção e gestão de conhecimento, mas, confesso que ainda não estou satisfeito. Não existe forma fácil de navegar entre esses documentos. Quero algo mais no estilo Wiki.
Por fim, mas não menos importante, somos viciados em agenda. Essa é uma das poucas coisas que faço questão de que todos usem. É através da agenda que sei que consigo me reunir com meus colegas sem atrapalhá-los. Lembre-se: sempre alguém controlará sua agenda. Que esse alguém seja você.
Documente o máximo possível
Fez uma reunião importante? Documente. Descobriu algo relevante? Documente. Executou um processo mais de uma vez? Documente. Executou um processo várias vezes? Melhore e redocumente.
Além de documentar, é preciso comunicar. Aqui no Tintim, eu oriento a todos sempre documentarem seu trabalho e comunicar seus colegas. Isso se chama gestão do conhecimento.
E nem vem com preguiça nessa parte. A gente vive na era das IAs. Use um software estilo Tl;dv e grave tudo o que for relevante. É barato e vale MUITO a pena.
Crie ritos e gestões
Se isso já é importante para empresas que trabalham no modo presencial, para empresas remotas é fundamental.
Eu gosto da filosofia de que quanto menos reuniões melhor. Acontece que o estilo remoto de trabalho é ineficiente por natureza. Enquanto não aprendemos o jeito mais eficiente de trabalhar, a gente compensa com reunião.
Já fiz um post sobre isso. A minha segunda-feira é dedicada a follow-ups semanais. Esses follow-ups garantem que a gente siga alinhado em trabalhar rumo a um mesmo objetivo. Acho que, para o nosso tamanho, está bom. Mas sei que, no futuro, precisarei me adaptar novamente.
Disclaimer
Como disse, esse deve ser um tema racional, e não passional. Hoje, somos um time pequeno. Não sei como vai ser quando tivermos 50 pessoas, ou 500. A única certeza que tenho é que será diferente. Haverá novos desafios e, com certeza, o trabalho remoto será um empecilho.
Trabalho remoto não é bala de prata, muito pelo contrário. Trabalho remoto é um meio, uma ferramenta. Colaboração é um meio, uma ferramenta. O fim é atingir resultados. O remoto é o jeito que escolhi para atingir resultados. Provavelmente, será o jeito que seguirei escolhendo. Ou não… Quando estiver com 50 pessoas no time, volto aqui e te conto as novidades. ;)
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Como foi a minha semana?
🏋🏻♀️ Pratiquei 5 dias de exercício físico e completei 104 dos 250 dias da meta do ano.
📚 Estudei 5 dias e completei 89 dos 200 dias da meta do ano.
📈 Toque aqui e veja a minha planilha de acompanhamento de métricas.
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O que eu estou lendo:
📚 Comecei a ler Poor Charlie's Almanack, que fala sobre a sabedoria de Charlie Munger, um dos maiores investidores da história.
📚 A noite estou lendo a biografia de Samuel Wainer, figura relevante na história da mídia brasileira.
🗂️ Toque aqui para saber quais os livros já li e a nota que dou a eles.
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O que eu consumi que gostei e recomendo?
📺 Um episódio do podcast do G4 super interessante sobre vendas, com o Gustavo Pagotto. Recomendo.
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Ótima reflexão! Tive uma trajetória parecida, trabalhando vários anos como freela remoto, e depois tendo uma startup que atuava 100% remotamente. Chegamos a 16 colaboradores antes da venda da empresa, e vou te dizer, apesar de ser possível, definitivamente não é fácil manter os times produtivos atuando 100% remotamente.
Vejo como um traço essencial na pessoa que funciona trabalhando remotamente a autogestão. Não dá pra produzir só quando tem alguém cobrando entrega. Embora eu já tenha sido um defensor ferrenho do modelo remoto, hoje (apesar de ainda preferir esse modelo) vejo que empresas que desejem funcionar dessa forma precisam caprichar muito no processo seletivo.
Pessoas que desejem trabalhar assim, precisam “desacostumar” com o modelo tradicional de sentar em um escritório das 8h às 18h, contando os minutos pra ir embora, e só trabalhando efetivamente quando tem alguém olhando.