Saia desse computador e vá se relacionar com as pessoas!
Saiba porque é ruim ser o tipo de programador eremita que não quer interagir com outros seres humanos.
👋🏼 Bem vindo a edição de número #19 da minha newsletter.
⚠️ Antes de começarmos, um breve recado: Estamos procurando programadores para trabalhar no Tintim. Se você possui experiência profissional em Python e Django e quer trabalhar comigo (ou, pelo menos, fazer um freela), responde esse email me convencendo a te contratar.
Pessoas que optam pela carreira de programação tendem a ser pessoas mais introspectivas. Já ouvi de muitos programadores que escolheram essa carreira pois preferem lidar com máquinas ao invés de lidar com pessoas.
Eu fui uma dessas pessoas, inclusive. Eu me lembro perfeitamente de uma conversa, certa vez, que tive com um amigo na faculdade.
Ele cursava Análise de Sistemas porque sua mãe o havia obrigado. O que queria mesmo era lidar com gente, pois, segundo ele, é aí onde está o dinheiro. Já eu dizia que não queria lidar com gente. Queria trabalhar sozinho.
Ainda bem que percebi cedo que essa ideia de poder me fechar num computador e trabalhar sozinho é ilusória.
O meu objetivo hoje é te mostrar como a maior alavanca de crescimento na carreira de uma pessoa é a sua capacidade de construir bons relacionamentos.
Vamos lá?
O dia que eu entendi a importância de ter bons relacionamentos
Início de 2017. Depois de um verão trabalhando pouco e aproveitando muito, eu recebi um contato de uma startup que estava precisando de um especialista em Python. Peguei minha mochila, coloquei nas costas e fui até o cliente entender mais sobre a demanda.
Demanda entendida, demanda atendida, problema resolvido. Devido ao bom trabalho prestado, o pessoal da startup acabou me convidando para assumir a liderança técnica do time de Python.
Ao ouvir a proposta, eu fiquei com o sentimento dividido. Por um lado, aceitar essa proposta de emprego ia na contra-mão com a minha vontade de empreender.
Por outro lado, a minha situação financeira já tinha sido muito melhor. Durante o ano de 2015 eu tinha ganhado bastante dinheiro, mas o ano de 2016 não foi um ano tão bom.
Além disso, os freelas que estavam chegando até mim não me animavam tanto. Sempre gostei muito mais de trabalhar com Python, mas, naquela época, só chegava site em Wordpress para fazer.
Por fim, eu me senti muito lisonjeado pelo convite de liderar um time. Seria uma experiência completamente nova e completamente diferente do que eu vinha fazendo até então.
Depois de ponderar todos esses fatores, eu resolvi aceitar.
O local de trabalho era no Cubo, um dos melhores coworkings para startups. Por isso, eu tive a oportunidade de trabalhar no mesmo local que mais de 100 startups.
A grande vantagem de trabalhar num local como o Cubo é poder vivenciar um ecossistema. Era super legal trabalhar lá. Dentro daquelas startups tinha uma galera muito foda trabalhando. E, o melhor de tudo: todo mundo disposto a se ajudar.
Naquela época, Python estava começando a entrar no hype, graças a sua grande adoção em ciência de dados. Esse foi, inclusive, o motivo pelo qual eu fui contratado. Foi quando eu comecei a trabalhar no Cubo que percebi como Python estava sendo demandado.
Por conta da alta demanda, eu passei a receber contato para freelas de várias daquelas startups. Tudo porque eu era um profissional escasso que estava me relacionando com as "pessoas certas".
Foi nesse momento que eu percebi o poder de ter bons relacionamentos.
Nessa época eu comecei a perceber, ainda que meio inconscientemente, que praticamente todas as boas oportunidades da minha vida aconteceram por causa dos bons relacionamentos que construí ao longo da jornada.
Eu só encontrei a oportunidade do meu segundo emprego devido a indicação de um colega que havia trabalhado comigo meses antes. Mérito para um bom relacionamento. Além disso, eu só fui aceito nesse processo seletivo porque um dos avaliadores conhecia o meu antigo líder. Mais um mérito para um bom relacionamento.
Em toda a minha carreira eu passei somente por dois processos seletivos: a minha primeira oportunidade, como estagiário e o meu segundo emprego. Daí para frente eu nunca mais fiz nenhum processo seletivo. Todos os meus trabalhos chegaram até mim por meio da minha rede de relacionamentos.
Todos os freelas que eu fazia chegava por meio de relacionamento. A minha maior oportunidade financeira chegou por meio de relacionamento. A minha primeira oportunidade de liderar uma equipe chegou por meio de relacionamento.
Diante dessa nova "descoberta" do poder do relacionamento, eu resolvi começar a investir deliberadamente em conhecer boas pessoas.
Foi quando resolvi fazer, no final de 2017, uma coisa até então inédita na minha vida. Comprei uma passagem, reservei um hotel (horrível, por sinal) e resolvi viajar sozinho rumo à Python Brasil. Essa decisão foi um ponto de inflexão na minha vida.
Lá eu conheci pessoas muito especiais que foram determinantes para minha vida pessoal e profissional. A Python Brasil de 2017 foi a semente para o cultivo de relacionamentos muito especiais com pessoas fodas que carrego até hoje.
Praticamente todas as pessoas que trabalharam comigo na Codevance eu conheci ou nessa Python Brasil, ou por intermédio de alguém que eu conheci lá.
Foi assim com as pessoas que trabalharam comigo e também com meus sócios. Conheci o Renzo dessa forma. Conheci o Ronaldo assim também.
Os anos se passaram e eu acabei direcionando minha carreira muito mais para o marketing digital. A essa altura eu já sabia perfeitamente que o caminho mais rápido para crescer profissionalmente era desenvolvendo bons relacionamentos. Por isso, resolvi "comprar" esse tempo e comecei a pagar (caro) para entrar em grupos de networking.
O investimento voltou muito rápido. Nesses grupos conheci pessoas que foram cruciais para a minha trajetória nessa nova carreira. Conheci pessoas que me ajudaram, conheci profissionais que trabalharam junto com a gente. Cheguei a conhecer até um investidor através da rede.
Por que você DEVE investir em relacionamentos?
Por curiosidade, fui ver quanto de dinheiro eu já investi especificamente na construção de relacionamentos ao longo dos últimos anos: o montante passa dos cem mil reais.
Se você acha caro, saiba que, de longe, esse tipo de investimento é o melhor que você pode fazer na sua carreira. Eu sei porque eu também fiz essa conta.
Quando você investe em construir bons relacionamentos, o que você está comprando são dois ativos valiosíssimos: acesso e tempo.
Ao acessar pessoas boas, você aumenta exponencialmente sua capacidade de aprender. Através de um bom networking você aprende mais, melhor e mais barato.
Isso acontece porque, quando você começa a se relacionar com boas pessoas, você percebe que o que é realmente valioso não está público.
Sem dúvidas existe muito conteúdo bom em aulas, talks e palestras. Mas não é aqui que você vai encontrar o que importa de verdade. O aprendizado que faz você realmente ficar bom no que faz está nas conversas de corredor, nas cervejas do happy hour, nos cafés e almoços.
Nessa mesma linha, as melhores oportunidades nunca estão disponíveis nos Linkedins e Cathos da vida. As melhores vagas quase sempre são preenchidas por indicações. Faz sentido, afinal, as grandes oportunidades exigem um alto grau de responsabilidade. É muito mais fácil atestar a qualidade de um profissional consultando pessoas de confiança do que confiando em um teste de processo seletivo.
Com pessoas boas você aprende o que, de fato, deve ser feito. Nos momentos ruins, a possibilidade de recorrer a boas pessoas te facilita no processo para encontrar uma solução. Em resumo, ao se relacionar com boas pessoas, você aumenta a sua possibilidade de acertar.
Mas não pense que todo esse poder vem "de graça". Conhecer pessoas é relativamente fácil. Uma pessoa que vai para uma feira profissional e sai distribuindo cartões está conhecendo bastante gente, de fato. Mas qual o valor existe em comprimentar uma pessoa, se apresentar e entregar um cartão?
Quando falamos de construção de relacionamentos, o dinheiro é o menor dos investimentos. O investimento, de verdade, está em gerar valor para as pessoas. Em ajudá-las a resolver seus problemas.
Um bom relacionamento se constrói quando você, genuinamente, decide ajudar uma pessoa sem esperar nada em troca. Por mais paradoxal que possa parecer, é agindo dessa forma que você colherá os frutos.
"Tá Moacir. Você me convenceu! Como eu começo nesse jogo de relacionamento?".
Eu tenho minha maneira de construir bons relacionamentos. Acontece que eu não tenho um método totalmente mapeado e organizado na minha cabeça. Eu sempre fiz de forma empírica, de forma intuitiva.
Mas, ainda bem que o grande Gabriel Mineiro, líder da Growth Leaders Academy, fez um talk onde ele compartilhou seu playbook de networking. Vou usar parte do playbook dele aqui para te ajudar nos seus primeiros passos para o desenvolvimento da sua rede de relacionamentos.
(Disclaimer: é óbvio que beber da fonte é muito melhor, por isso eu te recomendo assinar o GLA. Além dessa talk, eles possuem diversos outros conteúdos de grande valor para um programador que deseja desenvolver uma visão mais estratégica).
O primeiro passo é entender que poucos relacionamentos profundos valem mais que muitos relacionamentos rasos.
Voltando ao exemplo do cara que vai em uma feira e sai distribuindo cartões: nessa ocasião, quantas pessoas topariam dividir seus problemas e pedir ajuda para um cara que simplesmente se apresentou e te entregou um pedaço de papel?
A base de um bom relacionamento é a troca entre as partes. Para que essa troca seja de qualidade, é preciso se conectar com a pessoa do outro lado. Por isso, quando tiver que escolher entre cultivar um relacionamento ou iniciar um novo, decida cultivar.
Esse ponto já serve de introdução para a segunda dica: sempre ajude antes de pedir algo em troca.
De novo: bons relacionamentos possuem, como premissa básica, a geração de valor entre as partes. Portanto, primeiro se interesse genuinamente nos problemas da pessoa com quem você quer se relacionar e depois trabalhe para resolver esses problemas.
E não pense que você não é capaz de ajudar pessoas que estão em um estágio mais avançado da jornada. Absolutamente todas as pessoas no mundo têm algo a ensinar.
Coincidentemente, ontem eu ouvi uma entrevista do Leo Kuba com o Eric Santos, homem a frente da RD. Ao entrar no assunto "mentoria", uma das reclamações do Eric foi justamente a postura de alguns mentorados de simplesmente extrair e não se preocupar em devolver.
Essa postura até faz certo sentido, afinal, em teoria, o que eu tenho a ensinar para o homem que praticamente criou o mercado de marketing digital para PMEs no Brasil? O mais interessante é que ele entende que as pessoas, na grande maioria das vezes, não fazem isso por maldade, mas sim por falta de confiança.
De fato, a discrepância entre mentor e mentorado existe. O que não existe é pensar que essa distância elimina a capacidade de um lado poder ajudar o outro. O próprio Eric cita que um dos motivos pelos quais ele adora dar mentorias é justamente pelo aprendizado que adquire no processo (lembre-se: quem ensina, aprende duas vezes).
Portanto, quando for iniciar um relacionamento, sempre procure ajudar. Indique um livro, uma palestra, um podcast, recomende uma oportunidade, conecte-se com outras pessoas estratégicas. Você tem valor a agregar.
Agora, claro que você terá muito mais a agregar a um par do que a uma pessoa que já está muito afrente. E esse é o gancho para a terceira dica: compre na planta!
Quem nunca ouviu dizer daquele primo que investiu em um imóvel na planta, vendeu depois de pronto e colocou uma grana no bolso? Essa é a analogia. A dica aqui é "investir" em pessoas com potencial, mas que ainda estão pequenas e precisam de ajuda.
Quando você ajuda o outro, você desperta um gatilho emocional poderosíssimo: o gatilho da reciprocidade. Essa habilidade de ser grato e querer recompensar quem te ajudou é algo biológico, que já vem instalado no nosso cérebro por padrão.
Quando você ajuda alguém no início, você está ajudando essa pessoa no momento em que ela mais precisa de ajuda. Esse ato é poderosíssimo tanto para quem recebe a ajuda quanto para quem presta a ajuda. A chance de você ser recompensado no futuro é gigantesca.
Aproveitando o gancho e indo para a próxima dica, é preciso entender que, para o negócio funcionar, o ciclo virtuoso da ajuda precisa se fechar.
O gatilho da reciprocidade faz a pessoa sentir um desejo de retribuir. Se a pessoa tem esse desejo, oras, deixe a pessoa realizar esse desejo! Deixe que as pessoas que você ajudou te recompensem de alguma forma. Isso vai fazer bem para você e para ela.
Por fim, a última dica é entender que você está correndo uma maratona, e não uma prova de 100m rasos. Jogue o jogo do longo prazo e não tente extrair tudo o que você deseja extrair em uma primeira interação.
A pessoa do outro lado está ali para te ajudar, e não para assumir a responsabilidade de resolver os seus problemas. Coloque-se em uma postura de gratidão e deixe que a própria pessoa decida o quanto ela quer te ajudar.
Por mais que não pareça, muito do jogo do relacionamento está em se aproveitar da aleatoriedade da vida. Numa carreira de longo prazo, a "sorte" exerce um papel determinante.
Quando você se preocupa só em extrair, você está "queimando um cartucho" e, com isso, deixando passar as coisas boas que o acaso podem te trazer nesse relacionamento ao longo do tempo.
…
Como eu disse acima, o objetivo aqui é te dar um caminho para os primeiros passos na arte de se relacionar.
Se você já assistiu O Poderoso Chefão, você sabe que a verdadeira riqueza da família Corleone não é o dinheiro no banco, mas sim, o grande saldo no "banco dos favores" (se você nunca assistiu, saia daqui agora!).
Como está o saldo do seu banco? Você tem depositado?
Me conta! Adoraria saber.
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