Como eu aprendi a estudar (do jeito certo)
Eu leio todos os dias há quase 10 anos. No texto de hoje, resolvi contar como é o meu processo de estudos.
👋🏼 Bem vindo a edição de número #54 da Newsletter do Moa.
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De todos os hábitos que desenvolvi ao longo dos anos, ler foi um dos mais constantes e duradouros. Também foi um dos melhores hábitos que adquiri. Aprender a ler (de verdade) mudou minha vida.
Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu conto um pouco sobre como eu estudo.
O hábito da leitura
Eu sempre fui nerd. Sempre me interessei por saber como as coisas funcionavam. Me lembro de, quando criança, abrir o Meu Primeiro Gradiente inteiro, só para entender como ele funcionava por dentro.
Conforme fui me tornando adulto, essa curiosidade acabou se restringindo apenas à programação. Até meus 24 anos, mais ou menos, eu havia lido pouquíssimos livros na minha vida.
Pior que, durante a adolescência, até surgiu uma pequena fagulha de interesse pela leitura. Me lembro de ter lido (obrigado pela escola) e gostado de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Me lembro, também, de ter lido, por iniciativa própria, dois livros da primeira coleção do Harry Potter. Ainda assim, não me dedicava à leitura, porque eu achava que ler era "coisa de bobo" (sim, esse é o nível de mentalidade do brasileiro médio). Mas, lá em 2015, esse sentimento viria a mudar.
Já contei essa história aqui antes. Nessa época, eu comecei a me interessar mais pelo assunto "dinheiro", e me deparei com o blog do Raiam. Vi que o cara era meio fora da curva, tanto que se vangloriava de ter lido 300 livros em um ano. As leituras do seu blog me despertaram um senso muito forte de querer me desenvolver, o que fez com que eu decidisse traçar uma meta: no ano de 2016, eu leria 50 livros.
Missão dada é missão cumprida. Se você olhar na minha lista de leitura, verá que eu consumi exatamente 50 livros nesse ano (2016). Além de uma grande conquista, foi um baita progresso. Eu li, em um ano, mais do que havia lido em toda a minha vida.
Além do hábito da leitura, eu desenvolvi alguns outros hábitos saudáveis durante aquele ano. Eu passei a acordar cedo, voltei a fazer exercício, fiquei mais produtivo… Todos esses hábitos causaram impactos muito positivos na minha vida. Eu me sentia mais confiante, mais disposto… Essa primeira experiência que tive com a disciplina foi muito positiva.
Na época, isso não era tão claro para mim. O que me fez enxergar os benefícios desses hábitos foi que, no ano seguinte, eu voltei a trabalhar no mercado, e acabei abandonando esses hábitos. Rapidamente, engordei 10kg. Meu sono piorou, meu humor piorou, meu relacionamento foi afetado…
Depois de uma rápida experiência, eu finalmente aceitei que essa vida de CLT definitivamente não era para mim. Pedi as contas, voltei a praticar exercícios, voltei a acordar cedo, e também voltei a ler diariamente. Desde então, nunca mais parei.
Acredito que, de todos os bons hábitos que desenvolvi ao longo dos últimos anos, ler (junto com exercício físico) foi um dos mais constantes e duradouros. Ler diariamente é um hábito angular. Não à toa, grandes gênios da história, como Bill Gates e Charlie Munger, por exemplo, são ávidos leitores. Acredito que eu tenha mantido esse hábito pois rapidamente intui que esse seria um dos passaportes para a vida que eu desejava.
Avançando um pouco na linha do tempo, lá em 2019, eu entrei de cabeça no marketing digital. Dentre as minhas muitas fontes de estudo, uma das pessoas que mais me chamava a atenção era o Ícaro de Carvalho, dono dO Novo Mercado. O cara tinha muito conteúdo. Além do volume, era absurdo o nível de qualidade das suas aulas. O cara realmente é muito culto.
Outras duas grandes fontes de inspiração, também nessa época, eram o Jota e o Chico, dOs Náufragos (essa turma gosta de colocar artigos nos nomes). Eles não falavam sobre marketing, mas sim sobre desenvolvimento pessoal. Aqui, também, conteúdo de altíssima qualidade. Devo muito, muito mesmo, do meu amadurecimento como pessoa (e também como cristão) aos dois.
Sempre me impressionou a quantidade e qualidade de conhecimento do Ícaro e dOs Náufragos. Não somente conhecimento técnico, mas também uma espécie de sabedoria. Eles têm conclusões bem específicas e, ao mesmo tempo, autorais sobre suas áreas de atuação. Eles não são apenas educadores. Eles são pensadores. Produtores de conhecimento.
Essa capacidade intelectual vinha de algo em comum entre eles: eram alunos do Olavo de Carvalho. Minha intenção aqui não é entrar no mérito ideológico. Independentemente do que o Olavo pensava e dizia, precisamos aceitar o fato de que ele era uma máquina de estudos. Não só eles, mas seus alunos também.
Consumindo mais sobre o assunto estudo (principalmente através do Ícaro de Carvalho), acabei caindo no livro "Como Ler Livros", de autoria do filósofo americano Mortimer Adler. Depois de lê-lo, minha vida de estudos nunca mais foi a mesma.
Como ler livros
Por que uma pessoa alfabetizada leria um livro chamado "Como ler livros"?. Apesar do nome simples e até ingênuo, esse livro é obrigatório para qualquer pessoa que decida encarar os estudos com o mínimo de seriedade.
Antes desse livro, eu não tinha qualquer método para leitura. Eu simplesmente lia. Não fazia nenhum tipo de grifo, nenhum tipo de nota. Inclusive, eu abominava livros físicos. Só lia no Kindle, afinal, era mais prático e mais barato. Nessa época, eu até notava que tinha certa dificuldade para absorver conhecimento dos livros que lia. Mas, não me importava muito. Diante da minha imaturidade, eu estava mais preocupado em ler X livros no ano do que me tornar uma pessoa mais culta.
Ainda bem que, lá pelos idos de 2020, eu me deparei com essa obra. Pela primeira vez na vida, eu consegui realizar o quão profundo podemos ir ao estudar algum tópico. Por ter estudado em um bom colégio, eu acreditava que sabia estudar. Como eu era inocente…
Não pretendo resumir o livro aqui. Pretendo apenas citar pontos importantes para tentar te mostrar o quanto esse livro foi importante pra mim, e o quanto ele é necessário para quem deseja aprender a estudar de verdade.
Segundo Adler, existem quatro tipos de leitura. A primeira delas, a leitura elementar, nada mais é do que a alfabetização. Ler de forma elementar é decodificar frases para saber o que está sendo dito. Nesse nível, o leitor deve ser capaz de responder à seguinte pergunta: o que diz a frase?
Depois, vem a leitura inspecional, que é a extração do máximo do livro em um curto espaço de tempo. É preciso folheá-lo sistematicamente para saber qual é seu tema principal. Na sequência, vem a leitura analítica. Essa é a leitura completa, intensa e ativa. Aqui, o livro é “mastigado e digerido”.
Por último, temos a leitura sintópica, que é a leitura de diversos livros referentes a determinado assunto. Aqui, a comparação entre eles é feita e, a partir dela, pode surgir uma análise. Nesse nível, estamos, de fato, produzindo conhecimento.
Adler diz, também, que, quando lemos um livro, devemos buscar responder às seguintes perguntas: "O livro fala sobre o quê?", "O que exatamente está sendo dito?", "O livro é verdadeiro? Em todo? Ou só em parte?", "E daí? O que esse livro mudou em sua vida?".
Imagine só que, até então, eu jurava que lia de forma analítica. De repente, me aparece um cara dizendo que podemos questionar se um livro é verdadeiro ou não. Como assim?!?! Nunca passou pela minha cabeça que um livro pudesse conter falsidades, ou até mesmo servir a agendas ocultas, que não somente a verdade. Até então, eu simplesmente não sabia diferenciar fatos de opiniões. Praticamente um analfabeto funcional.
Com Adler, eu também aprendi a escrever no livro. Escrever tem diversos benefícios. Primeiro de tudo, ao escrever você se mantém desperto. Além disso, anotar ajuda a lembrar. Mas, por último e mais importante: ler é pensar, e o pensamento se expressa através da escrita.
"Ler é conversar com o autor". Essa é uma frase do livro. Para conversar com o autor, é preciso se expressar. A escrita é a ferramenta para isso. Como ouvi do Ícaro de Carvalho: "ao final de uma sessão de estudos, ambos devem estar destruídos: você e o livro".
Além disso, o livro possui diversos outros ensinamentos. Como resumo, eu diria que esse livro te mostra que você não precisa ser um mero espectador, mas, sim, pode ser um agente ativo na produção de conhecimento. Recomendo muito a leitura.
Como eu estudo
"Como ler livros" não foi o único livro que li sobre o assunto. Ao longo dos anos, consumi alguns outros conteúdos, entre livros, vídeos e podcasts, sobre como estudar. O consumo de todos esses materiais me fez desenvolver um estilo de estudos. É isso que eu pretendo compartilhar aqui com você.
Como eu escolho os livros
Antes de saber ler direito, é preciso saber escolher bem suas leituras. Se você ler muito bem um livro muito ruim, o máximo que vai acontecer é você absorver com muita eficiência um conteúdo lixo.
Por isso, a minha principal fonte de novos livros são indicações. Não indicações de qualquer pessoa, mas, sim, de pessoas em que confio. Não necessariamente eu conheço essas pessoas. Muitas das indicações vêm de entrevistas feitas em podcasts, por exemplo. Às vezes, pego, também, indicações vindas de outros livros.
Sempre anoto a indicação no meu Todoist, que é o Inbox do meu sistema de organização. Depois, passo a limpo para a minha lista de livros. Anoto o nome do livro, algumas características, o tema e, principalmente, quem indicou.
Antigamente, ao receber a indicação, eu simplesmente comprava o livro. Fazia isso porque gosto muito do conceito de antibiblioteca, apresentado pelo Taleb. Acontece que, na prática, essa brincadeira começou a ficar cara e começou a faltar espaço no meu escritório para tanto livro (na minha última mudança, foram 5 caixas só de livros). Hoje, faço um pouco diferente.
Os principais títulos são grifados na lista de livros. Não existe um critério muito claro. Geralmente, eu grifo um título quando ele começa a ser indicado mais de uma vez, ou simplesmente porque sei da fama daquele livro naquele assunto.
Quando acabo um livro, começo outro, simples assim. Assim que acabo um livro, anoto duas tarefas no Todoist: "escolher novo livro" e "lançar livro lido". Durante o dia, quando tenho uma brecha, abro a minha lista de livros, lanço o livro que li, e escolho um novo, geralmente dentre os grifados. A escolha varia conforme o meu humor e interesse do momento.
Quando eu leio
Eu leio sempre pela manhã, logo após minhas meditações e sessão de agradecimentos diária. Eu acordo 5h30, coloco a água do café para esquentar, os ovos do café da manhã para cozinhar, e então faço minha meditação e agradecimentos. Ao final, tiro os ovos, passo o café, posto o tradicional story que marca minha leitura do dia, e começo minha sessão de leitura. Ela dura entre 20-40 minutos.
Desde sempre, leio pela manhã. As manhãs são os momentos mais calmos do dia. Não há concorrência com trabalho, com trânsito, barulho de vizinho, etc. (cada vez mais há, porém, concorrência com o meu filho Giovanni, que ultimamente resolveu acordar junto comigo, às 5h30).
Além dos benefícios práticos de ler pela manhã, existem outros. De manhã, sua cabeça está praticamente zerada, fresquinha e pronta para receber novo conhecimento. Nosso cérebro absorve muito mais o conteúdo ao lermos pela manhã. Pela manhã há, também, o benefício mental: você cumpre com o que é importante logo nas primeiras horas do dia.
Faço isso de segunda a sexta. Antes do Giovanni nascer, lia também aos sábados. Hoje em dia, reservo as manhãs do fim de semana para ficar com ele, enquanto a Nathalia descansa.
Como eu leio
Depois de ler o "Como ler livros", eu leio exclusivamente livros em papel. O papel dá a liberdade necessária para eu poder interagir com o livro como bem entender. Posso anotar onde quiser, como quiser, e com o material que eu quiser. O Kindle limita minhas ações para apenas grifar e escrever uma nota (com um teclado horrível).
Uso sempre caneta preta e canetas marca texto amarela e laranja. A caneta preta é a CIS Pentonic 0.7. Super macia e de fácil deslize. As canetas marca texto são Pilot Lumi Color 200-SL. Compro sempre de dúzias na Amazon.
Uso a caneta marca texto amarela para grifar todo o trecho que seja conceitual. Já a caneta marca texto laranja, uso para grifar tudo o que seja filosófico. Sempre faço questão de anotar qualquer pensamento crítico/analítico que me vem à cabeça.
Além disso, aprendi com o Ícaro de Carvalho a fazer um índice paralelo com os tópicos que julgo relevantes. Marco o número da página e o tópico, sempre em uma das primeiras páginas do livro. Faço isso apenas com os livros que merecem esse tipo de dedicação.
Marco também, sempre, as páginas mais importantes, seja circulando o número da página, seja fazendo uma orelha na página. Marco também os tópicos mais importantes no índice.
Se o livro for MUITO MUITO MUITO relevante, eu faço um resumo no Notion.
Novas experiências
Fui forçado a ler o último livro que li no iPad. Não achei nenhuma cópia física nem digital Kindle, então, tive que recorrer ao bom e velho PDF.
Comecei contrariado, mas, aos poucos, fui gostando. Através da caneta do iPad, junto do aplicativo CollaNote, eu estou conseguindo fazer praticamente tudo o que faço num livro físico. Consigo riscar, rabiscar, grifar, escrever…
A experiência tem sido muito boa. Muito mais prática, inclusive, que num livro físico.
Minha próxima experiência será tentar fazer algo similar com o formato Kindle. Caso consiga, terei o melhor dos dois mundos: a liberdade de estudar como quero, e a facilidade de ter o conhecimento produzido em formato digital. Na era das IAs, serão infinitas as possibilidades com esse material de estudo digitalizado…
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E aí, como você estuda?
Conta pra mim nos comentários!
Abraços
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Como foi a minha semana?
🏋🏻♀️ Pratiquei 5 dias de exercício físico e completei 99 dos 250 dias da meta do ano.
📚 Estudei 4 dias e completei 84 dos 200 dias da meta do ano.
📈 Toque aqui e veja a minha planilha de acompanhamento de métricas.
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O que eu estou lendo:
📚 Terminei o livro Agora's Big Black Book. Estou escolhendo o próximo livro. Sugestões?
📚 Comecei a ler a biografia de Samuel Wainer, figura relevante na história da mídia brasileira. Vamos ver se gosto.
🗂️ Toque aqui para saber quais os livros já li e a nota que dou a eles.
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O que eu consumi que gostei e recomendo?
📺 O ótimo episódio do podcast Start Ups N’ Downs, onde o Ricardo Correa e o Cesar Bertini explicam a diferença entre empreender e fundar uma startup.
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