O melhor ativo para um programador investir seus recursos
Renda fixa? Ações? Criptomoedas? Onde eu devo investir?
👋🏼 Bem vindo a edição de número #23 da newsletter do Moa.
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O que não falta na internet é influenciador de finanças e educador financeiro. Se você entrar no Youtube e buscar pelo termo "como investir", você vai receber toneladas de vídeos com conteúdos de qualidade e esclarecedores.
Ainda sim, a grande maioria das pessoas não sabem investir. Digo mais, a grande maioria das pessoas não sabe lidar com o dinheiro, de uma forma geral.
O dinheiro é um recurso, ou seja, um meio para atingir objetivos. No texto de hoje, em continuação com o tema da semana passada, eu resolvi contar como eu lido com o dinheiro que ganho. Resolvi também trilhar o passo a passo que eu seguiria se estivesse começando minha carreira agora.
Vamos lá?
Preparando o terreno
Essa história de falar sobre dinheiro começou na edição da semana passada. A ideia do post era compartilhar a visão que fui desenvolvendo ao longo dos anos em relação a este tema, que é tão fundamental e, ao mesmo tempo, tão tabu: o dinheiro.
Como eu sou uma pessoa que gosto de ouvir e contar histórias, acabei me estendendo e, para o texto não ficar grande demais, eu decidi quebrar em duas partes.
Um dos motivos do texto da semana passada ter ficado grande é o fato de que a minha relação com o dinheiro sempre foi conturbada. O pior: eu não sou exceção. A relação da maioria das pessoas com o dinheiro é conturbada.
Dias atrás ouvi falar de um familiar que está completamente endividado. Seu custo de vida ultrapassa em quase 3x a sua renda mensal. Quando eu era mais jovem, não era raro amigos estourando o cheque especial e o cartão de crédito com bebida, balada e viagens, por exemplo. Conheço gente que, com menos de 25 anos, já tinha mais de R$ 100k em dívidas.
Se você está lendo esse texto, eu imagino que você não seja esse tipo de pessoa. Só o fato de você se interessar pelo tema já demonstra que você é uma pessoa consciente, financeiramente falando, e que entende o básico: é preciso gastar menos do que se ganha.
Esse é o conceito mais fundamental de todos quando estamos falando de investir nosso dinheiro. Conceito muito simples na teoria, mas nem tão simples de se pôr em prática.
A fórmula matemática é simples: O resultado da equação RECEITA - DESPESAS deve ser positivo. A receita é relativamente simples de se calcular. Dificilmente você terá muitas fontes de receita, principalmente se você está no começo da sua carreira. O desafio está em calcular as despesas.
Sempre que eu compartilho com as pessoas o quanto eu gasto mensalmente com determinadas categorias aqui em casa, eu sinto que as pessoas ficam meio assustadas. "nossa, mas você gasta tudo isso com mercado? Não é muito?", "nossa, mas seu carro custa tanto assim? Será que não tem algum problema?".
Durante anos eu fiquei intrigado com esse espanto. "Será mesmo que eu estou gastando muito?". Então eu voltava para a planilha, analisava, listava, cortava e mesmo assim a conta não mudava. Depois de muito tempo, finalmente, eu entendi esse descompasso.
A verdade é que as pessoas não têm a real noção de quanto gastam. Se você perguntar quanto a pessoa gasta de mercado por mês, ela vai considerar só o valor da compra do mês. Ela não coloca na conta as idas na padaria, no açougue, no mercadinho da rua, na feira, etc. Se colocar tudo isso na ponta do lápis, o custo pode ser 50%, ou até 100% a mais do quanto a pessoa imagina gastar.
Quantas pessoas você conhece que anotam e classificam EXATAMENTE TUDO o que entra e sai das suas contas? Você faz isso? Não vale "saber os valores por cima". Eu estou falando de saber exatamente quanto entra e quanto sai e qual a categoria desse gasto.
O que não pode ser medido não pode ser gerenciado.
O primeiro passo para começar a enriquecer é saber exatamente o quanto você custa por mês. "Mas, Moacir, eu preciso planilhar tudo? Isso vai dar um puta trabalho". Vai dar trabalho se você fizer de forma manual. Mas você é um programador, oras. Eu demoro de quinze minutos à meia hora por semana para fazer o financeiro da empresa e da família. É rápido assim porque está praticamente tudo automatizado.
Aproveite os arquivos CSV e OFX dos extratos dos bancos e crie scripts que processem esses arquivos em planilhas de forma automática. Dá até para incrementar um pouco mais e colocar uma lógica para prever a categoria do gasto considerando o seu descritivo ou algo do gênero.
Outra dica importante: pague tudo o que for possível no cartão de crédito. Além de acumular milhas para viajar mais barato e ter algumas regalias, fica muito mais fácil de classificar.
Listando e classificando todos os seus gastos você consegue saber exatamente quanto você (e sua família, caso tenha) gasta por mês e, principalmente, para onde está indo esse dinheiro.
Depois de saber o quanto você custa por mês, o próximo passo é mapear todas suas dívidas. De novo, quando eu falo todas eu REALMENTE quero dizer TODAS. O iPhone que você parcelou em 10x sem juros e ainda não terminou de pagar é uma dívida. O financiamento do carro, ou da casa, é uma dívida. Para saber o que é dívida, faça uma análise simples: "Se eu deixar de pagar isso, eu vou sofrer alguma consequência? O banco vai tomar meu bem? Eu vou pagar juros? Meu nome vai para o Serasa?" Se sim, é uma dívida.
Contabilizar suas dívidas é importante pois, com essa informação, você consegue chegar em outro número importantíssimo, quando falamos de riqueza: o tamanho do seu patrimônio. O cálculo para descobrir seu patrimônio é simples: CAPITAL ACUMULADO + BENS - DÍVIDAS.
Capital acumulado é tudo o que você tem de dinheiro, seja na poupança, na carteira, no colchão, na renda fixa, variável, bitcoin, etc. Bens é o que possui algum valor de revenda. Casa, carro, computador, equipamento, etc.
Saber o patrimônio total é importante, mas quando falamos de riqueza, o que importa mesmo é o capital acumulado mais as dívidas. Por quê? Porque esse é o montante que você consegue acessar rapidamente, em caso de emergência.
O primeiro passo para se ter qualidade de vida, quando falamos de dinheiro, é a construção da sua reserva de emergência. E se você perde sua principal fonte de renda? Como você vai pagar suas contas no mês que vem? E se você é PJ e sofre um acidente? E se alguém da família fica doente?
A principal característica de uma boa reserva de emergência é que ela não deve ser medida em reais, mas sim em quantidade de meses. Isso porque a reserva serve justamente para te sustentar no caso de algum imprevisto. Por isso é tão importante saber exatamente quando e como você gasta seu dinheiro.
A minha reserva de emergência equivale a cerca de 8-12 meses dos meus custos mensais. Eu a considero como um range de meses, e não como um valor fixo, justamente porque eu consigo apertar o cinto e cortar gastos, caso necessário.
De forma resumida, o que eu faço, e o que eu recomendo a você, é planejar pelo menos 3 cenários de custos mensais.
O cenário A é onde eu vivo bem, sem nenhum tipo de excesso ou desperdício, mas também sem passar vontade de nada. Quer ir ao restaurante? Vai. Quer pedir iFood? Pede. Quer viajar? Viaja (desde que esses gastos sejam feitos de forma consciente). Eu vivo assim porque o objetivo é enriquecer curtindo o processo e aproveitando a vida. Tanto o futuro quanto o presente são importantes.
O cenário B é onde a gente continua vivendo bem, mas cortando alguns luxos que são um pouco menos necessários. Aqui eu começo a, de vez em quando, trocar iFood por uma comida feita em casa. Aquela viagem para o Nordeste vira uma viagem para o litoral do estado. O restaurante fica reservado só para ocasiões especiais. O objetivo aqui é apertar um pouco o cinto para aumentar a capacidade da reserva financeira.
O cenário C é o onde ativamos o modo espartano. Corte tudo o que é supérfluo e corte um pouco na carne também. Se precisar mudar para um local mais barato, mude. Se precisar trocar a escola do filho, troca. Nada de viagens, nada de iFood, nada de restaurante. Esse cenário só deve ser ativado em caso de extrema necessidade.
A ideia de calcular esses cenários é tentar prever alguns possíveis problemas e saber como agir em determinadas situações. Hoje a minha reserva de emergência está em aproximadamente 8 meses do cenário A, que dá pra ser trabalhada e transformada em 12 meses do cenário B.
Investindo no seu principal ativo: você
Se você entrar em qualquer canal famoso de finanças no Youtube, com certeza você vai achar algum vídeo em que o influencer compare uma pessoa que começou a investir R$ 200/mês aos 18 anos vs uma pessoa que começou a investir R$ 200/mês aos 30 anos.
"Você precisa começar a investir o mais cedo possível". Está errado? Em sua essência, não está errado. Mas a forma como o conselho é apresentado e interpretado está errada.
Considerando uma taxa de 0,5% ao mês, a pessoa que começa a investir aos 18 anos terá um montante de R$ 454.031,88 quando atingir seus 60 anos. A pessoa que começou aos 30 terá na sua conta R$ 200.902,94. Menos da metade.
Essas contas que mostrei acima são matemática básica. Não tem como brigar contra a matemática. De fato, ao compararmos duas pessoas investindo R$ 200/mês, vale muito mais a pena começar mais cedo.
Acontece que você não vai ficar rico guardando R$ 200/mês (nem se fosse R$ 1.000/mês). Quando alguém fala que é preciso começar a investir desde cedo, esse conselho não se aplica somente ao lado financeiro da questão.
Voltando a matemática. Vamos supor que você comece a guardar R$ 500/mês a partir dos seus 20 anos de idade. Quando você chegar nos seus 60 anos de idade, você terá aproximadamente um milhão de reais no banco. Para ser mais específico: R$ 995.745,23.
Agora, imagine uma situação em que você demore para começar a investir e comece aos 35 anos de idade. Só que, ao invés de investir R$ 500, você investe R$ 5.000 por mês. Quando chegar nos seus 60 anos, você terá a bagatela de R$ 3.464.969,76 em sua conta bancária. Estamos falando de um montante 3x maior.
Nesse caso, valeu mais a pena começar mais tarde. O que fez a diferença foi o tamanho do aporte. Mas como ter capacidade de investir R$ 5.000 por mês? Investindo no seu maior ativo: você!
Você deve sim, começar a investir o mais cedo possível. Acontece que além de saber investir, você precisa investir no ativo certo. O ativo certo é aquele que vai te trazer o maior retorno com o menor risco. Esse ativo é a sua capacidade de fazer dinheiro.
Ainda usando a matemática, imagine que você fez um freela, ganhou uma graninha extra e resolveu separar R$ 2.000 para investir. Se você aplicar esse dinheiro numa renda fixa pagando 0,5% ao mês, em 10 anos você terá um montante de R$ 3.638,79. Agora, se você aplicar esses mesmos R$ 2.000 numa capacitação que vai te fazer ganhar R$ 100 a mais por mês, no final dos mesmos 10 anos você terá um montante de R$ 14.000.
Lembre-se: você não vai ficar rico investindo. O que enriquece, de verdade, é o trabalho. É a sua capacidade de fazer (muito) dinheiro.
"Ok, Moacir, eu já entendi que tenho que investir em mim, mas como fazer isso na prática?"
O primeiro passo para você desenvolver a sua habilidade de ganhar dinheiro é ficando muito bom na sua profissão. Portanto, se você está no começo da carreira, escolha uma linguagem que você goste e que tenha mercado e trabalhe até ficar bom o suficiente.
Lembre-se que o que faz um bom profissional não é a quantidade de conhecimento, mas sim a sua capacidade de aplicar esse conhecimento para gerar valor para outras pessoas. E essa habilidade só se adquire com experiência. Por isso, invista os primeiros anos da sua carreira nesse objetivo (sim, tempo também é um ativo, e um dos mais valiosos, inclusive).
Depois que você estiver bom na tecnologia que você escolheu, depois que você estiver resolvendo problemas reais e gerando valor de verdade para outras pessoas com a sua habilidade, é hora de começar a se aventurar em outras áreas.
Comece a se aprofundar em outros assuntos técnicos, mas um pouco mais conceituais, como arquitetura de software e gestão de projetos. Conhecimentos desse tipo darão um boost na sua capacidade de gerar valor através de software.
Sempre esteja se esforçando para trabalhar em empresas top de linha. Boas empresas possuem bons desafios. São esses desafios que vão te moldar como um bom profissional. Além disso, boas empresas possuem bons programadores. Você é moldado pelo ambiente que vive. Trabalhar em boas empresas é conviver, diariamente, com bons programadores.
Se precisar ganhar menos para trabalhar num lugar melhor, ganhe. Essa grana que você deixa de ganhar é o investimento que você está fazendo para estar entre os melhores.
Não preciso nem dizer da importância do inglês, né? A grande maioria do conhecimento moderno e de qualidade está em inglês. Estudar em português é estudar com atraso. Portanto, se dedique o mais rápido possível em aprender , pelo menos, consumir conteúdo em inglês (texto e áudio).
Outra dica importante também é não economizar em conhecimento. Cursos são bons, mas sempre prefira programas no estilo mentoria. Você investe mais dinheiro mas, em compensação, tem acesso a outros ativos, além do conhecimento. Networking é um deles, tanto com o professor quanto com outros alunos. Além disso, na mentoria você é acompanhado por um profissional experiente, que já passou pelos problemas que você passa atualmente. Nesse modelo, você está "alugando" a experiência de pessoas mais capacitadas que você.
Falando em networking, frequente todos os eventos de tecnologia que você puder frequentar. Vá em meetups, conferências, hackathons, etc. Frequente qualquer lugar em que haja outros desenvolvedores e procure se relacionar com a maior quantidade de pessoas possível. Networking é como um investimento de juros compostos. Portanto, quanto mais cedo você começar a construir sua rede, mais cedo você vai começar a colher frutos.
Essa é a trilha "profissional" que eu seguiria, se estivesse começando agora. Na real, eu segui uma trilha relativamente parecida com essa. Agora, é preciso ter em mente que, o que desenvolve realmente a sua habilidade de ganhar dinheiro, é o desenvolvimento pessoal.
Por isso, nos poucos espaços de tempo que sobrar, procure cuidar da sua saúde. Pratique exercícios físicos, cuide da sua alimentação, cuide da sua cabeça fazendo psicanálise e buscando autoconhecimento.
Depois disso, foque em desenvolver sua habilidade em se comunicar. Sempre que tiver oportunidade, saia da zona de conforto e fale em público. Se ofereça para apresentações, exponha cases em meetups e, quando se sentir confiante tecnicamente, faça palestras em conferências.
Aprenda, também, a lidar com pessoas. Estude sobre o comportamento do ser humano. Estude persuasão. Nada relevante se faz sozinho. Por isso, saber liderar é uma das principais habilidades que vão influenciar na sua capacidade de ganhar dinheiro.
Por mais que não exista uma relação aparente, consumir arte e cultura também é super importante. Uma das melhores formas de crescer como ser humano é vivenciando novas experiências. Ao assistir um filme ou ler um romance, você tem a capacidade de viver a vida de outra pessoa sem precisar sair do sofá. Uma das principais características dos bons líderes é que eles possuem repertório, experiência, bagagem, tanto profissional quanto pessoal. Adquirir cultura está diretamente relacionado a isso.
Por fim, tenha em mente que o desenvolvimento pessoal é desconfortável. Esse desconforto nunca vai passar, por melhor que você fique no assunto. Ao mesmo tempo, ao se desenvolver, você vai adquirir um dos elementos mais importantes para a sua capacidade de fazer dinheiro: confiança.
…
Eu tentei ser breve, mas, como sempre, falhei. Por mais que eu tenha buscado ser sucinto, esse é um assunto muito amplo. Cada tópico abordado aqui talvez mereça um texto exclusivo.
Vou reforçar: o seu maior ativo é você. Lembre-se que decidir investir no seu desenvolvimento pessoal, e, consequentemente, na sua capacidade de ganhar dinheiro, sempre será a melhor decisão, se comparado a investir em ativos financeiros.
Espero ter ajudado. Se tiver alguma dúvida, responda este email ou deixe seu comentário. Ficarei feliz em ajudar.
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