Decidi contar o motivo da minha saída da DevPro
O que R$ 3.000.000 de faturamento tem para nos ensinar
👋🏼 Bem vindo a edição de número #31 da newsletter do Moa.
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Dentre as muitas empreitadas com as quais me envolvi, a DevPro (antiga Python Pro) foi uma das que mais tiveram sucesso. Financeiramente falando, nós não conseguimos atingir nossos objetivos. Mas, ainda sim, o saldo foi super positivo.
Na edição de hoje da newsletter eu decidi contar um pouco dessa trajetória e, principalmente, listar alguns erros e acertos, para que possam te servir de inspiração.
Vamos lá?
Um emprego de luxo
Eu sempre quis ser rico. Me lembro perfeitamente, em uma dessas lembranças de criança, eu dizendo para a minha mãe que, quando eu crescesse, eu seria rico e compraria uma Ferrari. Isso ainda não aconteceu, mas o desejo pela riqueza teve muita influência na minha trajetória profissional.
Eu comecei minha carreira na tecnologia sendo estagiário de suporte. Não era aquele suporte mais clássico, nível 1, em que centenas de pessoas ficam espremidas em suas baias, com ouvindo xingamentos através de seus headsets. Era um suporte mais consultivo, com demandas complexas, que nem sempre eram facilmente resolvidas.
Por iniciativa própria, eu comecei a usar muita programação para me auxiliar no meu dia-a-dia prestando suporte. Para pular para a área de desenvolvimento e me tornar um programador que constrói soluções, foi questão de meses.
Em alguns anos eu fui evoluindo, tecnicamente e profissionalmente também, até que cheguei em um momento em que eu ganhava um bom dinheiro (para um menino que não tinha responsabilidade nenhuma e ainda morava com a mãe). Ganhava um bom dinheiro, mas trabalhava que nem um camelo. Pior, além de trabalhar muito, trabalhava sob forte pressão e num projeto que tinha tudo para dar errado. Tanto que deu.
Foi um período em que eu estava muito insatisfeito. Já de saco cheio, um belo dia eu fiz uma conta de padeiro e percebi que, se eu vendesse um site em Wordpress por mês, eu conseguiria equiparar meu salário. De um lado estava eu, trabalhando de social, 12h/dia, trânsito de 2h, ouvindo merda de chefe num projeto fracassado. De outro, estava apenas um sitezinho em Wordpress por mês, super simples e fácil de fazer, do conforto da minha casa. Não pensei duas vezes.
22 anos de idade. Foi nessa idade que eu me deparei, pela primeira vez, com o dilema "dinheiro ou tempo". Dessa vez eu escolhi o tempo. Pelos próximos meses eu fiquei ganhando pouco (em relação ao meu potencial), mas vivendo com muito tempo. Durante um tempo foi bom, depois eu fiquei insatisfeito de novo.
Corta para os meus 27 anos. Já bem mais maduro e em outro momento de vida, eu me deparo com a situação oposta. Exercia praticamente todo o meu potencial e ganhava um bom dinheiro, mas tinha voltado a trabalhar igual a um camelo. Só que, diferente de antes, eu trabalhava para mim mesmo, com mais de um cliente, comandando um time muito bom de programadores e em projetos super legais. O dia a dia era bem melhor do que antigamente. Mas, ainda sim, eu estava cansado.
Depender diretamente da sua mão de obra para ganhar dinheiro é ser "escravo" do trabalho. Para o bem e para o mau. Se você trabalha muito, você ganha muito. Se você não trabalha, você não ganha. Essa era a minha situação. Eu me acostumei a ganhar bastante dinheiro, mas tinha que viver com o pé no acelerador, trabalhando 12h/dia. Eu estava começando a entender que, na grande maioria das vezes, ser prestador de serviço é ter um "emprego de luxo".
Diferente de antes, agora eu estava em uma sinuca de bico. Se eu trabalho para mim mesmo, eu consigo ganhar dinheiro, mas dependo 100% de estar trabalhando. Não posso tirar férias, não posso ficar doente, não posso acordar num dia ruim. Se eu volto a ser empregado, eu consigo ganhar dinheiro, mas tenho pouco controle do que faço e corro um risco grande de cair num projeto merda. A dúvida que pairava na minha cabeça era: "como eu consigo ganhar dinheiro sem depender diretamente da minha força de trabalho?"
Encontrei uma saída!
Entre os meus 23 e os meus 27 anos, muita coisa aconteceu. Eu tive empresa de fotografia para evento, eu tive site que vendia seguidores no Instagram, eu ameacei arriscar uma carreira como jogador profissional de poker… Nada disso deu certo.
Durante essas andanças e procurando me encaixar na vida, eu conheci o blog do Raiam em 2015 e comecei uma jornada de desenvolvimento pessoal, com muita pesquisa, muita leitura e muito estudo.
Durante essa jornada, fui percebendo que eu estava vivendo em uma bolha e precisava sair, frequentar novos locais e conhecer novas pessoas. Até então, mesmo tendo frequentado muito pouco o ecossistema de programação, eu já tinha feito boas amizades. "Bom… se fazendo pouco já deu certo, imagina se eu fizer muito?". Então decidi me dedicar a frequentar eventos de tecnologia.
Encurtando a história que já contei aqui outras vezes, fui parar na comunidade Welcome to the Django, do meu amigo Henrique Bastos. Lá dentro acabei conhecendo um cara chamado Renzo Nuccitelli.
De cara, já ficamos muito amigos. Sempre estávamos presentes nas discussões online e sempre com pontos de vista muito parecidos. Depois de pegar uma boa amizade de forma virtual, fomos fortalecendo essa amizade nos eventos presenciais. Foram vários. Me lembro que, na Python Sudeste que aconteceu em Vitória/ES, em 2019, a gente, junto com outros amigos, praticamente ignorou todas as palestras e ficamos pelos corredores, bares e restaurantes batendo papo sobre tudo.
Além da gente ter uma história de vida em comum e, por consequência, muitos valores em comum, o contexto do nosso momento também era bem parecido. Ambos estávamos muito interessados em saber mais sobre marketing digital. Eu, movido pela ideia de ganhar dinheiro sem ter que vender horas. Ele, movido pela vontade de crescer sua empresa, que, na época, chamava Python Pro.
A Python Pro foi fundada pelo Renzo e pelo Luciano Ramalho, lá em 2013. Começou com alguns cursos soltos, bastante técnicos e de altíssima qualidade. Em 2019, época da qual estou falando, o Renzo atuava sozinho, sem o Luciano, e tinha juntado todos os cursos em uma super formação. A qualidade seguia excelente. Entretanto, sempre foi um side-project. O objetivo do Renzo era transformar o projeto em sua atividade principal.
Depois de trocar muita figurinha sobre nossas vontades, acabamos percebendo o óbvio: O real interesse do Renzo não era marketing, mas sim educação. O meu real interesse não era educação, mas sim marketing. "Por que a gente não se junta?" Foi quando, em agosto de 2019, eu virei o marqueteiro oficial da Python Pro.
Essa parceria durou três anos. Não lembro ao certo os outros números, mas posso afirmar com segurança que mais de 10 mil pessoas foram impactadas pelos nossos cursos. Chegamos a ter um time de mais de 15 pessoas. Mudamos o nome da empresa para DevPro. Ao todo, faturamos mais de R$ 3.000.000 de reais.
Eu acabei saindo da sociedade no meio de 2022, mas a empresa segue funcionando, firme e forte. A motivação da minha saída foi a falta de perspectiva. Quanto mais a gente trabalhava, mais a gente faturava. Faturava mais, trabalhava mais, mas o lucro seguia o mesmo. Quanto mais o tempo passava, menos a gente enxergava um cenário financeiro que permitisse o Renzo conseguir ficar full time na empresa. Sem ter o rosto da empresa 100% dedicado, a gente nunca conseguiria atingir nossos ambiciosos objetivos.
Apesar de tudo, ainda sim considero uma jornada de muito sucesso.
Os erros e os acertos ao faturar R$ 3M+ na internet
Escrever esse texto está sendo uma terapia para mim. Olhar para o passado, reconhecer os erros, e também os acertos, faz muito bem para nossa cabeça. Além do que, faz bem também para o Tintim, o novo empreendimento que comecei depois do fim da minha parceria com o Renzo.
Ao preparar o texto, eu listei uma série de acertos e erros que cometemos ao longo do caminho. Também pedi para o Renzo me mandar um áudio fazendo o mesmo. O resultado foi muito bom e deu pra ver que a gente segue bastante alinhado na forma de enxergar a vida.
Começando pelos acertos, acredito que o mais importante de todos e que ambos concordamos foi na escolha dos sócios. Os nossos valores são muito alinhados. Eu sempre confiei muito no Renzo e ele em mim. Confiei tanto que grande parte da nossa negociação sempre foi no fio do bigode, já que sempre tinha algo mais importante a ser resolvido do que "essas chatices burocráticas". Apesar disso, nunca tive medo de ser passado para trás (disclaimer: não recomendo isso pra ninguém).
Muitas pessoas dizem que uma sociedade é igual a um casamento. Eu discordo. Sociedade é um milhão de vezes pior que um casamento. Numa sociedade você precisa ganhar dinheiro. A chance disso acontecer se não houver um alinhamento fino é muito pequena. Além disso, sociedade não tem sexo (dizem que no casamento também não 😛).
Outro grande acerto que tivemos foi o fato de entender, desde cedo, que somente um bom produto não basta. Ganha o jogo quem vende melhor. Por sermos programadores, temos a tendência de acreditarmos que um bom produto se vende sozinho, somente através do boca a boca. Isso até pode ser verdade num pequeno nível de escala. Para o tamanho de empresa que queríamos construir, não se pode depender somente de um bom produto. Nesse caso é preciso também de um bom marketing e um bom time de vendas.
Eu considero esse aprendizado fundamental e decisivo para qualquer negócio que está começando. Tanto que, aqui no Tintim, replicamos essa lógica e alcançamos R$ 100k MRR em 9 meses de operação.
Outro grande acerto que tivemos foi, desde cedo, buscar se conectar a outros empreendedores que estavam construindo negócios parecidos. Eu e o Renzo nos conhecemos através de eventos e comunidades. Estávamos presente nessas comunidades justamente por entender o valor de ter uma boa rede de relacionamento.
Dois meses depois de me associar ao Renzo, eu me matriculei numa mentoria em grupo que só tinha feras do mercado de venda de cursos. Durante todos os 3 anos, sempre estivemos em grupos de networking "comprando" acesso a boas pessoas e também a conhecimento. Esse investimento com certeza acelerou nosso crescimento.
Houve alguns outros acertos. Mas, se eu tivesse que elencar apenas três, com certeza esses seriam os mais importantes. Agora, erros… esses sim, aconteceram aos montes. Vamos aos principais.
Acho que o principal erro que cometemos foi não ter nenhum dos dois sócios full time no negócio. Durante toda a trajetória da DevPro eu (com a ajuda do meu sócio Ronaldo) toquei a Codevance em paralelo. Por mais que eu não estivesse mais envolvido profundamente no dia a dia da empresa, ainda sim ela sempre foi o meu "plano B".
O Renzo até ficou full time durante alguns poucos meses. Mas, segundo ele próprio, não foi de uma maneira eficaz, muito menos eficiente. Acho que isso se deve à nossa imaturidade da época, como empresários. Durante quase toda a nossa trajetória, o Renzo esteve trabalhando em paralelo em uma startup chamada Buser. Esse era o "plano B" dele.
Uma coisa que aprendi sobre mentalidade é que, enquanto o seu plano B não for "fazer o plano A dar certo", as chances de você fazer o plano A dar certo são bem menores. O ser humano é um bicho acomodado. Saber que existe uma saída para caso o plano dê errado "desliga" o seu instinto de sobrevivência.
Esse, inclusive, foi um dos primeiros erros que escapamos de cometer no Tintim. Assim que a gente conseguiu uma estabilidade financeira, mínima que fosse, a gente já desligou todos os clientes da Codevance e migrou todo o time para o Tintim. O resultado foi praticamente instantâneo. No mês seguinte ganhamos tração e os próximos meses foram os de maior crescimento.
O fato de não estarmos full time na DevPro era ruim para a mentalidade e também ruim para o dia a dia. A quantidade de horas que conseguíamos dedicar ao projeto era menor que o necessário. Para compensar essa limitação, a gente decidiu crescer o time. Acabou que ficamos com uma folha de pagamento inchada e não conseguimos vender o suficiente para sustentar essa folha.
Por fim, o último erro que citaria foi o fato de nunca termos parado para pensar o nosso negócio de forma estratégica. O Renzo define esse sentimento muito bem dizendo que sempre achamos que "na força bruta dava".
O Renzo é um sobrevivente. Vários amigos de infância dele estão na cadeia. Outros estão no cemitério. Na base da força bruta ele foi parar no ITA, a maior instituição de ensino superior pública do Brasil. Imagina o que é você ficar durante um ano seguido estudando 8 horas por dia, de segunda a sexta, e fazendo um simulado de 4 horas no sábado.
Eu nunca tive um nível de disciplina e disposição nesse nível. Mas, guardada as devidas proporções, também consegui muita coisa na minha vida na base da força bruta.
Acontece que, chegado um determinado nível, é preciso começar a pensar. O Alex Hormozi tem um framework que define essa lógica muito bem. É o "More, Better, Different". Para você crescer, primeiro você tem que fazer mais do que você já faz. Quando estagnar, você começa a fazer melhor o que você já faz. Quando estagnar de novo, você pensa em algo diferente, uma inovação. Então reinicia o processo. Tanto eu como o Renzo construímos uma carreira na força bruta. Acontece que o caminho para construir uma empresa não é o mesmo caminho que trilhamos para construir nossas carreiras.
Ainda nessa linha de pensar mais estrategicamente, misturando também um pouco com nossa escassez de tempo, um erro que o Renzo apontou, que considero muito mais uma consequência do erro acima, foi não termos produzido conteúdo gratuito de forma robusta.
Eu e o time de marketing fazíamos o que podíamos para produzir conteúdo sem precisar do Renzo. Mas, não adianta, o professor era ele. Olhando para trás, fica claro que o conteúdo denso que conseguimos produzir, mesmo sendo pouco, teve grande influência nos resultados que conquistamos.
O Rodrigo Nunes, co-founder do Reportei, definiu isso perfeitamente em uma conversa que tivemos no RD Summit. "As únicas coisas que importam em uma empresa são dados e marca". Produzir conteúdo denso, de qualidade e que gera valor na vida das pessoas está associado diretamente à marca. Esse, inclusive, será o foco do Tintim para 2024.
Para finalizar, eu gostaria de frisar uma frase do Renzo, no final do áudio que ele me mandou: "Eu passaria tudo de novo". Sem dúvidas, eu também.
Claro, não passaria tudo de novo para cometer os mesmos erros. O sentimento aqui é muito mais de que a jornada valeu muito a pena. Apesar de não termos conquistado nossos objetivos, o saldo foi super positivo.
Esses 3 anos de parceria foram mil vezes mais valiosos que um MBA. Eu aprendi, na prática e da melhor forma possível (mais difícil também) a como tocar uma empresa. Aprendi muito do que devemos fazer e muito do que não devemos fazer. Fortaleci a amizade com um grande amigo e, por fim, coloquei um dinheirinho no bolso.
O meu principal aprendizado com essa experiência foi que empreender só vale a pena se o upside for MUITO grande. Se o objetivo é só colocar dinheiro no bolso, uma carreira de executivo, por exemplo, é muito menos arriscada.
O seu trabalho como empreendedor só faz sentido se ele tiver dois outputs: um resultado de curto prazo e a construção de um ativo para o longo prazo. Se você não consegue enxergar como o seu trabalho atual vai te beneficiar no futuro, as chances de você estar "correndo atrás do rabo" são muito grandes.
Espero que você que está começando nessa jornada do empreendedorismo extraia algum conteúdo de valor desse texto.
Se você está construindo seu MicroSaaS, sua startup, ou até mesmo sua operação de prestação de serviços, leia esse texto com calma, cruze com seu momento e busque por insights. Sei que você vai encontrar.
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